Será que os freios orais impactam no desenvolvimento orofacial, craniofacial e maloclusão?
A resposta é um retumbante sim! Há muitas evidências e bases científicas para esta argumentação.
Será que os freios orais impactam no aleitamento materno? A resposta é: ainda há dúvidas. Ou seja, um bebê, mesmo com anquiloglossia, pode conseguir mamar no peito da mãe, ganhar peso e não machucar seu mamilo. (Pediatras e mães felizes)
Mas será que é somente isso? Nestes casos, está tudo bem? NÃO.
Para quem conhece a fisiologia do aleitamento materno e está atualizado com as novas evidências sobre a importância do vácuo intraoral para a extração do leite durante o aleitamento materno, sabe que, mesmo o bebê ganhando peso e sua mãe confortável e sem dor, este bebê estará extraindo o leite de forma “adaptada” e sem a devida coordenação entre as funções respiração, sucção e deglutição, impactando no seu desenvolvimento crânio e orofacial.
Sabemos que estas adaptações podem impactar no estabelecimento de maloclusões, devido alterações na sucção, deglutição, respiração, fala e mastigação.
Será que estamos todos atentos a isso?
Sem dúvida, o leite materno como alimento é o melhor que podemos proporcionar ao bebê. Mas este é UM dos pontos da importância do aleitamento materno.
Nós, como odontopediatras, temos que estar atentos à fisiologia do aleitamento e que todos os seus estímulos neuromotores estejam se estabelecendo coordenadamente. E a língua representa um papel muito importante nesta fisiologia.
Do ponto de vista do odontopediatra, os movimentos realizados pela língua e todos os músculos envolvidos na extração do leite, permitem que o palato se desenvolva, a mandíbula avance e inicie a formação da articulação temporomandibular que estimula centros extremamente importantes do crescimento e desenvolvimento crânio facial do bebê.
O correto selamento labial estimula a respiração nasal que, desta forma, estimula o crescimento do terço médio da face. A sucção e deglutição coordenadas com a respiração também estimulam postura e desenvolvimento da coluna cervical.
Sem mencionar o aleitamento materno do ponto de vista da fonoaudiologia, da osteopatia, das terapeutas ocupacionais, consultoras de aleitamento e de tantos outros profissionais que devem estar atentos ao desenvolvimento deste “sistema” que é o bebê e seus primeiros mil dias de vida, e do binômio mãe/bebê.
A transdisciplinaridade é fundamental, assim, não é possível olhar o freio lingual curto somente de UM ponto de vista.
A obrigatoriedade de avaliação do freio lingual, por meio de uma lei (questionável ou não) trouxe a questão da falta de capacitação para o diagnóstico, decisão de intervenção e de técnicas a serem utilizadas.
Não se trata de minimizar a importância do freio lingual ou reservar sua atenção a especialidades específicas da saúde. Trata-se de capacitar todos os profissionais envolvidos para o correto diagnóstico (que apresenta protocolos validados de avaliação) e intervenções planejadas e adequadas para cada caso.
O manejo do aleitamento, sem dúvida é muito importante e pode ajudar muitos casos onde encontramos a dificuldade na efetivação do aleitamento materno, independente da presença de freio lingual curto.
No entanto, ainda observamos profissionais não capacitados para esta atuação e muitas especialidades em busca desta capacitação.
Do meu ponto de vista, o odontopediatra deve capacitar-se para ajustar o “aparelho” ortopédico/ortodôntico que o aleitamento materno representa, permitindo que todos os movimentos nele inseridos permitam o desenvolvimento neuro motor que propiciará o desenvolvimento harmonioso das arcadas e da oclusão funcional.
O monitoramento do desenvolvimento craniofacial desde a gestação deve fazer parte da nossa atuação. Temos que nos capacitar para isso.
Se neste caminho, o freio lingual curto for um fator de impedimento, devemos diagnosticá-lo e proceder as devidas intervenções em comum acordo transdisciplinar (pediatra, fonoaudióloga, osteopata, família).
A técnica cirúrgica vai depender das condições e do diagnóstico, realizados por profissionais capacitados e qualificados para tal. Lembrando da importância do pós operatório, onde a continuidade de monitoramento garantirá o sucesso da intervenção.
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